Em Casa é um espaço destinado a criadores da área da dança, propondo que ao longo de uma temporada desenvolvam o seu trabalho nos EVC. Depois da presença de Miguel Moreira, João dos Santos Martins, Jonas & Lander, Marlene Monteiro Freitas, Teresa Silva e Victor Hugo Pontes, convidamos Sofia Dias & Vítor Roriz a infiltrarem os vários espaços dos EVC com as suas instalações e projetos performativos: Arrumar a casa, Da desordem das paixões, Labirinto, À distância de um braço, Dueto, entre outros.
Uma vez “em casa”, vamos começar por uma arrumação: a arrumação do nosso arquivo com quase 20 anos e que precisa urgentemente de ser revisto e organizado. Cassetes MiniDV, DVDs, CDs, programas, folhas de sala, cartazes, cadernos, hard drives, pen drives… materiais em todo o género de suporte que estavam dispersos lá por casa e que agora trazemos para os EVC para finalmente decidir o que se preserva e o que se descarta. Mas nem só de arrumações se faz este projecto, ao qual chamamos ARRUMAR A CASA. Para além do intenso trabalho sobre um arquivo, vamos tentar partilhar algumas suas re-descobertas através de uma infiltração em contínua metamorfose nos espaços dos EVC. Por isso, não se surpreendam se ao longo dos próximos meses encontrarem alguns vídeos, fotografias, sons ou textos nos recantos dos EVC. Depois, em Junho, aquando dos santos populares, vamos organizar um evento com uma instalação mais visível e partilhar convosco o resultado de um laboratório de pesquisa sobre diferentes dispositivos performativos e/ou materiais de alguns dos nossos espectáculos.
Este olhar sobre o nosso passado enquanto dupla acompanha um outro olhar sobre o nosso passado colectivo, através de quatro projectos que vamos desenvolver ao longo do ano. Dois desses projectos, embora feitos em colaboração com diferentes intervenientes, têm em comum o Barroco, atendendo especialmente à ligação entre dança e música característica deste período. DA DESORDEM DAS PAIXÕES é o título de um deles, e será realizado em co-criação com os Músicos do Tejo, tendo a sua estreia em 2026. LABIRINTO, uma figura de estilo tão comum no Barroco, é o título de um outro projecto ainda sem estreia marcada, mas que nasce de uma vontade de experimentação com as instrumentistas Helena Raposo (Alaúde) e Ana Castanhito (Harpa). Os outros dois projectos não têm um foco especial sobre o Barroco, mas prolongam a reflexão sobre o passado em ligação com o espaço museológico. À DISTÂNCIA DE UM BRAÇO é um projecto que estava na gaveta há pelo menos três anos e que conseguimos finalmente activar através de uma parceria com o Museu Nacional de Arte Antiga. Nesse projecto, vamos tentar contrariar a forma cristalizada como olhamos as obras de arte de um museu e criar uma performance que procura reduzir a distância entre o “passado” representado e o “presente” de quem o olha.
Todos estes projectos contam com períodos de ensaios e pesquisa nos EVC, e alguns deles têm momentos de abertura ao público para partilha de materiais, reflexões ou apenas para trocar impressões sobre o estado do mundo.
Finalmente, vamos partir para a criação de um DUETO. O nosso último dueto para palco, O que não acontece, foi criado em 2018, e já estamos com saudades de nos encontrarmos a sós num estúdio. O dueto é a nossa forma-síntese, é o que está mais próximo do que somos, do modo como fomos construindo a nossa identidade enquanto artistas e de como percorremos estes quase 20 anos de colaboração. Este é o formato onde nos permitimos partilhar com o público aquilo que temos de mais íntimo e contraditório. Por isso, em Outubro e Novembro estaremos fechados num estúdio dos EVC a fazer aquilo que mais gostamos, para depois o partilharmos convosco. — Sofia & Vítor