Em contraste com os movimentos mecânicos, mas caóticos e violentos das sociedades humanas, a dança sintoniza-nos com a nossa realidade biológica, complexa e poética. A dança aproxima-nos do natural, do animal e do espiritual. No movimento de um corpo que dança, encontra-se um sentido mais profundo para ler a existência.
Mergulhando na ancestralidade e na força vibrante da terra e da gente da Guiné-Bissau, explora-se o corpo enquanto veículo de afinação com o mistério de uma força ligada à natureza e a esse corpo maior que é o mundo. Dando continuidade à estética desenvolvida por Pedro Ramos, que explora o corpo como parte da floresta, a ecologia profunda e a alquimia, em cocriação com a linguagem coreográfica de Ernesto Nambera, coreógrafo do Ballet Nacional/Grupo de Dança Contemporânea da Guiné-Bissau, e com inspiração na enorme riqueza, expressão e saber ancestral guineenses, procura-se criar uma peça sobre as problemáticas ecológicas, sociais e políticas do nosso tempo, promovendo o restabelecimento dos laços de confiança com a natureza exterior e interior e um caminho de transformação e de ressignificação da nossa convivência. Entre a ancestralidade e a contemporaneidade, a experiência holística do corpo e as preocupações emergentes dos dias de hoje, procura-se, em Kurpu di Mundu, a afinação com a nossa realidade biológica e espiritual, alinhada com o sentimento de pertença e ligação à terra.
Ordem do O é uma estrutura financiada pela DGArtes e pela Câmara Municipal de Lisboa.