Perpetuam e reproduzem-se estereótipos gerados por uma ignorância obsoleta. Mas existirá um denominador comum? O que é o eu por baixo de todas essas construções? Existirá algo por baixo de todas essas colonizações sociais? Ou o indivíduo está condenado a existir como uma amalgama de pré-construções? Quantas estruturas habitam o corpo que tomo como meu?
«A experiência de que parto é pessoal, de um corpo e de uma identidade em confronto entre múltiplas pressões para ser e a lutar por uma possibilidade de permanência, de uma interioridade em sintonia com uma exterioridade. Como numa visita a um Candomblé, como quem mergulha no mistério e na magia da existência humana e quer ir mais a fundo, parto da certeza do muito que não sei. Não sei como muitos corpos acontecem num mundo que, para mim, é um dado adquirido. O meu mundo como dado adquirido é a minha experiência: cresci em Odivelas, sou afrodescendente, filha de pais angolanos, estudei num colégio privado – a minha experiência é limitada. Quero pesquisar intensiva e exaustivamente os corpos que não conheço, que têm contextos, identidades, e experiências distintas do meu corpo.»
«No meu imaginário sonhador, vejo o projeto como um oceano – cheio de curiosidade e necessidade de reflexão sobre estas narrativas – que se expande em diferentes canais que alcançam os vários sentidos comunicando: procurarei em conjunto com outros a palavra que dê poder a quem se queira fazer escutar; as imagens que abrem as linhas, portas e janelas num horizonte tendencialmente mais fechado; e o movimento que toque o ar que o rodeia, agitando-o.»
Ficha Técnica
