A Pedra, a Mágoa parte da observação de pedreiras abandonadas em território nacional, analisando a aceleração de decomposição dos espaços em imagens e comparando-as à ideia social do conceito Família. Posicionando-se na fronteira entre o público e o privado, o coreógrafo procura uma velocidade que conduza o espectador a um espaço mitológico de acolhimento e disrupção, onde a contemplação se proporciona através de milhares de frames por segundo.
- um Fauno para os meus pais -
«Observei o meu país de cima. Lá, os meus pais multiplicavam-se entre cidades e vilas, construindo famílias que não eram minhas. Famílias grandes e famílias pequenas, famílias solteiras ou em grupo, com e sem casas. Mesas cheias e bolsos completamente vazios, famílias com bocas calmas e imagens que são apenas familiares no exterior. Olhando para baixo, vi também feridas abertas na terra, escavações sem fim, umas cuidadas e outras abandonadas, umas cheias de água e outras com gargantas escassas, inspeccionadas por animais de ferro a que decidimos chamar de gruas para que o trabalho pesado não fosse confundido com a exploração animal (o meu pai e a minha mãe sempre foram animais de trabalho). As famílias das pessoas e as famílias dos buracos tornaram-se demasiadas para manter a visão clara, perdi os meus pais e as suas novas famílias (que talvez sejam minhas ou então esses pais nunca me tenham pertencido). Percebo que talvez eu não esteja em lado nenhum, que tudo é um enorme buraco de pedra caída. Não há mais país, nem pais, nem família - tudo é tudo e tudo traz o princípio do nada: recomeçar uma escavação a partir de dentro.» ― Daniel Matos
Ficha Artística