Mono-no-aware (物の哀れ), o «pathos das coisas», termo japonês dificilmente traduzível por «uma empatia para com as coisas» ou «uma sensibilidade especial sobre as coisas efémeras», está relacionado com a consciência e celebração da inevitável transitoriedade das coisas, assim como uma leve tristeza ou melancolia inerente ao estado de mudança, transformação e efemeridade presente na realidade e na vida quotidiana, manifestando-se também como uma expressão emocional em relação à natureza, uma forma de antecipação nostálgica da impermanência do tempo presente e do derradeiro paradoxo da vida (morte vivida) que é a sua finitude. Na literatura clássica e poesia japonesa, refere-se ao ideal estético do mono no aware, que implica uma sensibilidade particular de consciência e capacidade de resposta para alguma coisa, um objeto inanimado ou mesmo um ser vivo, ou uma resposta emocional sobre uma pessoa.
O projeto coreográfico interpela e convoca diferentes materiais imagéticos e poéticos, partindo deste lugar de memória e evocação, e simultaneamente de aceitação e contemplação do tempo presente e da sua transitoriedade, propondo pôr em prática um verdadeiro «laboratório criativo de coisas efêmeras», corporalizando e indagando este estado mono no aware. Um corpo nostálgico que se desequilibra entre dois filtros temporais e duas realidades, o passado, o presente e uma ideia de futuro. Corpos, lugares e espaços que funcionam em condições não hegemónicas são os espaços das alteridades, que não estão nem aqui nem lá, que são simultaneamente físicos e mentais. Espaços e corpos que sobrevivem fora das condições não hegemónicas. Corpo(s) da alteridade para lá do espelho da realidade.
As imagens morrem em palco e são levadas para fora dele?
Se um corpo não se dissolvesse, não desaparecesse como nevoeiro, as coisas perderiam o poder de nos mover?