Neste ensaio, o autor descreve as mutações do sentimento «judeófobo» ao longo de milénios – desde o advento da cristandade até Lutero, desde Proudhon até Hitler – considerando-o como uma componente essencial da doxa ocidental. Trata-se afinal de «judeofobia» e não de «antissemitismo», noção recentíssima que, afinal, perpetua o preconceito que pretende denunciar. A ideia de uma «raça» judaica (agora, entendida como «grupo étnico») continua a ser alimentada, e, com ela, a estrutura que esteve na base da subjugação dos judeus no Ocidente, converte-se em novo preconceito e forma de dominação. O ódio em relação ao «outro» encontra-se agora virado para esses outros «semitas» que são os muçulmanos.
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Shlomo Sand
S. SAND (n.1946) é historiador e Professor Emérito da Universidade de Telavive, onde lecionou História Contemporânea. Filho de pais polacos, de cultura iídiche e sobreviventes do Holocausto, nasceu e passou os dois primeiros anos de vida num «campo para pessoas deslocadas» antes da família emigrar para Israel, onde efetuou o serviço militar obrigatório e combateu na Guerra dos Seis Dias (1967). Doutorou-se em 1982 pela École des hautes études en sciences sociales, em Paris. A sua investigação tem incidido sobre a história cultural moderna, o movimento sionista e a construção de Israel. Com tradução em mais de 30 países, Como o Povo Judeu foi Inventado (2008), Como a «Terra de Israel» foi Inventada (KKYM+P.OR.K, 2021) e Como Deixei de ser Judeu (2013) propiciam-lhe projeção mundial. É ainda autor de Le XXe siècle à l'écran (2002), dedicado ao cinema.
Shlomo Sand encara Israel como fait accompli, mas reclama a transformação do Estado judaico num Estado de todos os seus cidadãos, independentemente das etnias ou religiões.