Flávio Rodrigues — Desenhos | Auto-retratos

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  • Estúdios Victor Córdon
  • 28 fevereiro 2025 02 maio 2025

  • Ciclo de Exposições — 2025
  • Info
No dia 28 de fevereiro, pelas 18h30, inauguramos a exposição Desenhos | Auto-retratos de Flávio Rodrigues, inserida na 2ª edição do ciclo "Cérebro, olhos, mãos e papel", com curadoria de Carlota Lagido.

Desenhos | Auto-retratos

Numa primeira etapa do processo criativo, à semelhança de projetos precedentes, emerge o contacto com os materiais por meio da caminhada e da deriva. Nesses percursos exploratórios, os materiais assumem proeminência — cartões, folhas, tintas, canetas e outros suportes descartados no lixo ou deixados à porta de lojas e armazéns —, recolhidos como fragmentos de uma paisagem urbana visível, mas frequentemente negligenciada, marginalizada ou considerada indesejada.

Esses materiais constituem a base para a criação. Ademais, utilizo para a demarcação dois lápis oferecidos pelo meu pai, cujo ofício é a marcenaria. Trata-se do tradicional lápis vermelho de forma retangular, amplamente utilizado em fábricas e na construção civil, conhecido como lápis de carpinteiro. Também recorri, no processo, à máquina de costura, reutilizando linhas e outros materiais, como tinta ou canetas, igualmente encontradas na marcenaria ou em contextos de lixo. Subsequentemente, no meu quarto, enquanto espaço de maior intimidade para mim, as demarcações dão azo a uma reflexão sobre a auto-representação. Aqui, o meu corpo inscreve-se nos traços e nas formas. A presença física revela-se, não apenas na ação ou no gesto, mas também nas marcas que se expandem para além dos contornos do próprio corpo. Cada desenho se concretiza, assim, como uma matriz e extensão dessa presença, traduzindo uma possível captação que oscila entre a corporeidade e a sua ausência — habitando um “entre”. Um corpo nu e a nu. Por fim, a lógica que permeia todos esses elementos é o uso de uma linha contínua e ininterrupta. Este traçado desdobra-se de forma constante e incessante, como um fluxo rítmico e pulsante. A linha, embora finde por necessidade de conclusão, revela no seu percurso uma circularidade potencialmente infinita, que se reinventa a cada volta — uma tensão entre permanência e transformação. — Flávio Rodrigues

Cérebro, olhos, mãos e papel

Que capacidade é essa do corpo que transporta o que observamos e o encerra numa folha de papel? Falo do corpo a transmutar-se em desenho, numa fusão intrincada entre olhos, mãos e papel. É como o desenvolvimento de um músculo mental que de forma misteriosa se prolonga pelo braço, chega à mão e percorre o papel. Transforma-se em movimento e dinâmica. Há pessoas das artes performativas que desenham mesmo antes de usarem o corpo como instrumento. Estas exposições revelam três formas diferentes de usar a musculatura mental, cada uma com a sua identidade e beleza. O desenho é um ato físico que requer tempo, memória, foco, prática, vontade, resistência e liberdade. É como dança. Nesta segunda edição, o desenho transforma-se em ação com Flávio Rodrigues, em escultura com Miguel Bonneville e em movimento com Ana Caetano. ― Carlota Lagido

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