Nota imperfeita à criação Atopos é a figura que o ser apaixonado faz do ser que ama. Pela distinção que lhe é atribuída, o ser amado é inqualificável. Por na sua singularidade responder tão completamente à especialidade do desejo daquele que se deixa enfeitiçar por ele, a atopia é o estado elevado do ser humano. Como no amor, qualquer parecer que fazemos do outro é sempre um reflexo de nós próprios, uma extensão das nossas crenças e particularidades de gosto.
Atopos, a peça, nasce do encontro de dois jovens coreógrafos com intenção de pensar o olhar que dedicamos aos corpos e o seu valor enquanto parte e expressão de cada ser, e cresce como vontade artística quando esse interesse se cruza com a perspetiva poética de o fazer sobre o suprassumo da nossa admiração. Apesar da sua pesada valorização, o ser amado é mais do que o lugar que criaram para ele, é sempre também o recôndito, é sempre a relação entre o recôndito e o espaço iluminado.
Ficha Artística