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agonia no jardim marca a estreia de bonneville no universo da cerâmica – uma prática iniciada após a suspensão da sua trajetória nas artes performativas. esta exposição inaugura o projeto serial animais paisagens e santos, que investiga as vidas e os legados de diferentes santos, explorando, simultaneamente, as intersecções entre o estudo da mística, as relações entre animais humanos e não humanos, e a tensão entre civilização e natureza.
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“o amor fez nascer o mundo, a amizade fá-lo-á nascer de novo.” — hölderlin, hipérion ou o eremita da grécia
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constantemente à procura de expandir o seu vocabulário para além do que é expectável, para além do que lhe foi ensinado, bonneville procura não restringir a linguagem, permitindo que ela crie outros mundos. a obrigação, para si, está do lado oposto ao da imaginação. começou a fazer cerâmica por vontade e por curiosidade, sem nenhum fim em mente a não ser a própria prática. isso trouxe-o até aqui, sem que o planeasse. foi fácil. aconteceu. deixou-se voltar a estar disponível ao mundo sensível, à matéria — e ela respondeu. reabriu-se o vasto reino do erótico.
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no episódio da agonia no jardim, cristo encontra-se num momento de extrema vulnerabilidade. sabe o que se aproxima — a prisão, a violência, o abandono — e pede aos seus amigos que fiquem com ele. essa súplica é, na verdade, um apelo à presença e ao consolo — a amizade revela-se como companhia na dor. ele não lhes pede que o salvem, ou que façam alguma coisa de heroico — pede-lhes apenas que estejam. ainda assim, eles adormecem. esta falha não é uma traição, é uma fragilidade humana: é difícil acompanhar verdadeiramente o sofrimento dos outros. é difícil estar, simplesmente, quando não há palavras, soluções ou promessas fáceis.
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estas duas realidades — a da amizade em tempos difíceis e a descoberta de novas possibilidades que não exigem sacrifício — fazem parte de agonia no jardim. nos momentos em que tudo se torna insustentável, há quem permaneça. não para oferecer saídas, mas para ver, para ouvir, testemunhar. depois, há o tempo em que já não se espera nada. e é nesse momento que se recomeça. o gesto não serve senão a si mesmo — o prazer de fazer sem pedir autorização. sem plano. sem retorno esperado. esta exposição nasce desse lugar: onde o fim de um caminho abre espaço para outro tipo de presença — menos dirigida e, talvez por isso mesmo, mais viva.
Para qualquer informação adicional sobre as obras, poderá contactar diretamente o artista através do endereço de email: office@miguelbonneville.com
Agradecimentos: ó cerâmica, livraria aberta, o lugar do meio, teatro do silêncio, maria teresa oliveira, ricardo costa, sofia dinger.